Afinal, quem somos?
Khanimambo - Sábado, tínhamos acabo de almoçar e estávamos esperando o tempo passar para sair novamente quando tocou a campainha.
Era o Félix, jovem tímido, com ar de cansado e olhar orgulhoso por cumprir uma tarefa tão importante.
Ele faz parte de um grupo, de mais de 12.000 estudantes e professores, responsáveis pelo Censo 2007.
A visita é rápida.
Pergunta-se o nome, tamanho da casa, número de quartos, se é feito ou não cultivo de hortícolas, se tem ou não criação de animais, número de mulheres por família e escolhendo entre as alternativas define-se quem você é!
Simples.
Para essa campanha cívica o governo comprou algumas motos, carros e mais de 2.000 bicicletas.
Antes mesmo das entrevistas começarem, podia-se ver na televisão comerciais convocando o povo Moçambicano a participar.
Em Maputo, carros percorreram as ruas com o alto-falante mobilizador:
- Povo Moçambicano, participe do Censo 2007! É importante sabermos quem somos...
A maioria dos entrevistadores são professores. Portanto, as aulas foram suspensas nesses dias em todo o país.
Na semana passada, os camponeses não foram para as machambas. Queriam estar em suas casas para esperar o "Félix".
- Quem não tá aqui é porque tá em casa para esperar as perguntas. Quem está aqui, deixou a cabeça lá! Associado de Magul
O último Censo foi feito logo depois da guerra e muitos acham que a população é muito maior do que se diz por aí!
- Ninguém entra no mato, para contar as pessoas que moram lá. Nunca foram. Por que agora vão para fazer perguntas? Sr. Antonio, morador de Macia
O clima do país mistura novidade, ansiedade, desconfiança e orgulho.
- 2.000 bicicletas é muito pouco. Os professores não vão aguentar fazer longas distâncias.
- Tem gente que vai inventar gente. É mais fácil preencher tudo aquilo debaixo da árvore.
- Hoje não vou sair de casa. Quero ser contada!
Essa mistura parece refletir a sede de um povo de se conhecer. Saber e valorizar suas raízes, sua história e daí, poder seguir em frente.
Por certo, não serão somente as perguntas do Censo que farão esta tarefa.
A história desse povo não é de múltlipas escolhas. Dentre os poucos caminhos possíveis, muitas vezes não foram eles que escolheram.
A complexidade das multi-culturas, da história da colonização, da recente guerra, da independência de papel, dos acordos de paz, das muitas línguas e tribos, requer uma capacidade de ler o que nunca foi e nem será escrito.
Ou pelo menos com essas letras e números que conhecemos.
Um desavisado, numa das páginas de Mia Couto, nos dá uma dica de onde encontrar a história do povo Moçambicano:
- Esse homem vai carregado de sofrimento.
- Como sabe?
- Não vê que só o pé esquerdo pisa com vontade? Aquilo é o peso do coração. A terra têm suas páginas: os caminhos. Você lê o livro e eu leio o chão.
Khanimambo
4 comentários:
lu, adorei saber notícias suas pelo blog! daqui, parece que está mesmo sendo uma experiência linda! beijo grande! cin
Olá Luciana!!! Eu sou a Márcia Brincas. Trabalhei na Fundação Orsa qdo te conheci, e outras fundações em SP. Eu sou amiga da Heloíze Campos e do Vinícius, creio que foram eles que me introduziram a vc., mas não tenho certeza.Talvez seu pai em algum dos muitos eventos sociais. Já faz algum tempo que não tinha notícias suas ou do Aracati. Eis que eu estava numa palestra em Florianópolis semana passada(local onde voltei após 10 anos etre São Paulo e Irlanda), e o Martinelli estava lá com toda sua sabedoria. Foi muito bom reencontrá-lo pois foi com ele que fiz minha primeira entrevista em SP para trabalhar na área social, dez anos atrás. Fiquei até emocionada de ouvir as palavras dele e saber que ao longo daqueles anos eu tive oportunidade de agir segundo os princípios e valores que ele expressa. Na ocasião ele me falou de vc. e desta bela experiência que estás vivendo em Moçambique. Li seu relato (último). Suas palaras são fonte de inspiração para trasnformação e creio que vc. esteja tendo um papel muito especial entre estas pessoas. Com certeza sua coragem de estar aí, trasnformando e compartilhando de uma vida bastante distante de sua realidade é fonte de motivação para todos que precisam de uma palavra de conforto. Mais do que isso de alguém, que lá do outro lado do mundo lembrou deles e atravessou o Atlântico para poder contribuir, trazer um pouco de amor e solidariedade. Para vc. pode não parecer muito e nem ser o tanto que esperava mas para ele significa o mundo! Continue firme... isso dará um livro de aprendizado! Abraço, Paz!Amor! Márcia R. Brincas
parabens pela tecnica de fotografia.
eu quero aprender quando voce voltar.
beijos, jeff
Lú,
Esperei a semana toda para ler e saber de vc, suas experiências.... e não vi nenhum registro na última sexta-feira.
Como vc está? Tudo bem?
Mande notícias!
Bjs,
Fê
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