Reencontro
Khanimambo - Depois de uma longa estrada, de alguns buracos, de alguns caminhos duvidosos, paramos o carro e podia-se ver ao longe algumas mulheres curvadas trabalhando numa plantação.
Hoje, plantam batata, arroz e tantas outras hortaliças.
Hoje, percorrem quilomêtros para buscar água.
Hoje, equilibram potes de mais de 50kg na cabeça.
Hoje, cozinham para em média 15 pessoas todos os dias.
Hoje, preparam a terra em suas machambas.
Hoje, cuidam daqueles que não podem mais trabalhar.
Hoje, olham pelas crianças.
Hoje, carregam as crianças em suas costas.
Hoje, cuidam dos maridos.
Hoje, buscam sementes na estrada principal.
Hoje, levam o que colheram para vender na estrada principal.
Hoje, cantam.
Hoje, não descansam.
Quando pergunto por seus filhos: dizem que estão na escola para aprender mais.
Quando pergunto por seus maridos: dizem que estão na África do Sul, nas minas de ouro ou em casa fazendo outras coisas.
Quando pergunto por elas e seus sonhos: dizem que estão bem e para o amanhã, só não querem mais passar fome.
São mulheres fortes, com traços de quem luta todo dia pela vida sem esquecer da doçura de um sorriso.
Ainda que não digam com todas as letras, sabem de sua força se permanecerem juntas. Querem ver a terra que cuidam todos os dias cheia de alfaces, rúculas, batatas e depois ver a panela de suas casas também cheias.
São mães, são avós, são mulheres, são filhas: verdadeiras guerreiras, escondidas a céu aberto no meio de uma savana moçambicana.
Usam capulanas, tecidos coloridos, na cabeça e como saias.
- Mas por que usam esses lenços? É para proteger do sol?
- É .... também é .... é ... é para ficar bonita!
São lindas as mulheres da Associação de Chicotane.
Fiquei conhecida como Mama Lúcia por lá e na minha próxima visita já disseram para que eu não esqueça a minha capulana.
Devo voltar lá algumas vezes.
Elas estão prontas e sonhando com o próximo passo: criação de frango para abate.
"Os encontros são feitos das mais diversas químicas, às vezes construídos simplesmente a partir de um olhar, ou da soma de pequenas situações cotidianas, que mudam a direção de nossas vidas. Poucos podem ser avaliados ou medidos cientificamente. Só o contato com a reconstrução da nossa experiência de vida, e um diálogo interno, podem validar a sua importância" Morgana Mazetti
Foi muito bom reencontrá-las com a mesma devoção pela vida! - Khanimambo.