Descobrindo o novo do mundo
Khanimambo - Estávamos no acostamento da estrada nacional, no estacionamento do único posto de gasolina de Macia. O raro barulho que ainda podia se escutar era dos poucos carros que apressadamente partiam para Maputo. As pessoas andavam quase correndo para chegar em suas casas. Já era hora de se recolher. O vento anunciava uma noite daquelas!
Sentados numa mesa de plástico branco com quatro cadeiras, tomávamos a segunda rodada de chá com chamussa e pão de alho quando a conversa começou.
O administrador da província é um moçambicano de meia idade. Pessoa ilustre por essas bandas, representa a autoridade máxima do Governo. Tem fala mansa e joga as frases com cautela na roda, num ritmo sem pressa.
João de Deus é português e meu parceiro de trabalho. Tem sempre muitos causos que foram contados e vividos pelos quatro cantos do mundo.
O Indiano, como é conhecido, mora em Moçambique há 18 anos. O sotaque ainda é forte e a ligação com sua terra está nos cantos de seu pequeno comércio e na emoção quando se lembra da cidade natal.
- Querem construir uma ponte de 40 quilometros para ligar Moçambique a mais 2 países da África. Será que tem outra ponte tão grande assim no mundo?
- Na estação de trem de Nova Delhi, partem trens a cada 30 segundos. Será que tem outra estação tão movimentada assim?
- Moram em Luanda mais que 50% de toda a população de Angola. Será que tem outro país com pouca gente espalhada por tantas terras?
- A população de Moçambique é menor do que a da cidade de São Paulo. Como cabe todo mundo na mesma cidade, se aqui precisamos do país inteiro?
- Como plantam trigo no Canadá se só conseguem se dedicar 4 meses a agricultura?
- Em Luanda, o maior comércio popular se chama Roque Santeiro, por conta da novela do Brasil. Por onde passam as novelas do Brasil? Quem assiste?
- Em Portugal, quando faz frio e esquecemos a roupa fora de casa, ela congela. Aqui não faz tanto frio assim. Semana passada nevou no Rio Grande do Sul e o Indiano perguntou de que cor era a neve.
Percorremos países e cidades numa viagem sem compromisso. Partimos sem destino do longínquo posto de gasolina de Macia.
Cada um falava o que sabia ou achava que sabia...
O importante alí não era definir o mundo, saber ao certo seus contornos e limites. Não buscávamos as verdades sobre os povos, a precisão histórica e nem mesmo os números certos das estatísticas.
A cada nova frase uma pausa.
Um silêncio de quem admira o novo do mundo. Um tempo de reconhecer a vastidão e ao mesmo tempo a fragilidade de todos nós.
Mais uma pergunta sem resposta, mas uma resposta sem pergunta...
E um novo silêncio.
A cada pausa, cada um fazia a sua própria viagem. Estávamos juntos, sem dúvida, mas aquela experiência foi única e diferente para cada um.
Até que, depois de algumas horas, o Indiano rompeu o silêncio e como porta voz, de forma doce e calma, contemplou a cena e disse:
- Como o mundo é grande! Cabe até nós sentados aqui, conversando em Macia.
No céu a Lua, também nova, parecia abençoar os viajantes. Já os mosquitos reclamavam por seu espaço nesse mundão.
E nós, reconhecemos a hora de voltar pra casa, com um sentimento quase planetário e aquecidos pelo chá de Macia. - Khanimambo.
Sentados numa mesa de plástico branco com quatro cadeiras, tomávamos a segunda rodada de chá com chamussa e pão de alho quando a conversa começou.
O administrador da província é um moçambicano de meia idade. Pessoa ilustre por essas bandas, representa a autoridade máxima do Governo. Tem fala mansa e joga as frases com cautela na roda, num ritmo sem pressa.
João de Deus é português e meu parceiro de trabalho. Tem sempre muitos causos que foram contados e vividos pelos quatro cantos do mundo.
O Indiano, como é conhecido, mora em Moçambique há 18 anos. O sotaque ainda é forte e a ligação com sua terra está nos cantos de seu pequeno comércio e na emoção quando se lembra da cidade natal.
- Querem construir uma ponte de 40 quilometros para ligar Moçambique a mais 2 países da África. Será que tem outra ponte tão grande assim no mundo?
- Na estação de trem de Nova Delhi, partem trens a cada 30 segundos. Será que tem outra estação tão movimentada assim?
- Moram em Luanda mais que 50% de toda a população de Angola. Será que tem outro país com pouca gente espalhada por tantas terras?
- A população de Moçambique é menor do que a da cidade de São Paulo. Como cabe todo mundo na mesma cidade, se aqui precisamos do país inteiro?
- Como plantam trigo no Canadá se só conseguem se dedicar 4 meses a agricultura?
- Em Luanda, o maior comércio popular se chama Roque Santeiro, por conta da novela do Brasil. Por onde passam as novelas do Brasil? Quem assiste?
- Em Portugal, quando faz frio e esquecemos a roupa fora de casa, ela congela. Aqui não faz tanto frio assim. Semana passada nevou no Rio Grande do Sul e o Indiano perguntou de que cor era a neve.
Percorremos países e cidades numa viagem sem compromisso. Partimos sem destino do longínquo posto de gasolina de Macia.
Cada um falava o que sabia ou achava que sabia...
O importante alí não era definir o mundo, saber ao certo seus contornos e limites. Não buscávamos as verdades sobre os povos, a precisão histórica e nem mesmo os números certos das estatísticas.
A cada nova frase uma pausa.
Um silêncio de quem admira o novo do mundo. Um tempo de reconhecer a vastidão e ao mesmo tempo a fragilidade de todos nós.
Mais uma pergunta sem resposta, mas uma resposta sem pergunta...
E um novo silêncio.
A cada pausa, cada um fazia a sua própria viagem. Estávamos juntos, sem dúvida, mas aquela experiência foi única e diferente para cada um.
Até que, depois de algumas horas, o Indiano rompeu o silêncio e como porta voz, de forma doce e calma, contemplou a cena e disse:
- Como o mundo é grande! Cabe até nós sentados aqui, conversando em Macia.
No céu a Lua, também nova, parecia abençoar os viajantes. Já os mosquitos reclamavam por seu espaço nesse mundão.
E nós, reconhecemos a hora de voltar pra casa, com um sentimento quase planetário e aquecidos pelo chá de Macia. - Khanimambo.