sexta-feira, julho 13

Quase não saí e quase não cheguei



Khanimambo - Como não poderia deixar de ser, a chegada foi tão ou mais agitada do que a partida. Depois de horas numa fila interminável para embarcar no Brasil e quase perder o vôo, reclinei o máximo da poltrona, que não era muito, coloquei uma trilha sonora afro-brasileira e tentei encontrar o sono perdido das últimas semanas.

Não sabia que no exato momento em que pousei no aeroporto de Maputo, iniciava o que hoje chamo de ritual de passagem.

Estar inteira num lugar não é tarefa fácil. Conseguir viver o aqui e o agora é tarefa para uma vida inteira.


Saí do avião e fui direto para a imigração. Dessa vez, não foram as filas que me atrapalharam, e sim a sensação de que uma parte de mim ainda estava no Brasil.

A esteira rodava, rodava, as pessoas pegavam suas malas e nada...

Deixei o tempo passar um pouco. Sempre depositamos algumas esperanças que o tempo nos traga a solução. Mas, nesse caso, o tempo foi o porta voz da conclusão: minha mala estava se aventurando por outras paragens!


Recorri aos Achados e Perdidos, local mais requisitado do aeroporto. Falei com uma rapariga, que estava dividida entre atender uma fila de pessoas reclamando pelas suas malas e digitar os formulários necessários. Identifiquei a cor e modelo da minha mala num enorme catálogo e recebi a notícia que ainda no mesmo dia ela estaria em Maputo.


Depois de alguns telefonemas, voltei as 21 horas para encontrar o aeroporto vazio, quase sem luz. Começou naquele momento a novela das chaves, que terminaria somente no dia seguinte pela manhã.


Para abrir o depósito das malas era necessário que duas chaves estivessem juntas: a do Sr. Alfândega e a da Júlia, do Achados e Perdidos. Apesar de falarmos a mesma língua, essa tarefa foi uma das mais difíceis que já vivi.


Ninguém podia abandonar seu posto e cada departamento tem seus horários e cultura de funcionamento. Comecei as atividades de moderação antes mesmo de chegar em Macia.


A Júlia reclamava da arrogância dos gajos da Alfândega, e parecia ter medo de pedir um favor a eles. Por outro lado, o Sr. Alfândega, dizia que ela que teria que resolver o problema.


Sem minhas tarjetas e painel, voltei pra casa e só consegui tirar minha mala do aeroporto no dia seguinte depois de mobilizar o Sr. Dimas, de outro departamento desconhecido, a Lili, que adora o Brasil e que naquele dia estava disposta a ousar e romper com as regras, e lógico, depois de uma boa noite de sono, o bem humorado e simpático Sr. Alfândega.


Finalmente no domingo estava inteira, com minhas roupas, livros e lembranças do Brasil.


Acho que nada é por acaso, nem mesmo esse tempo extra no aeroporto. Precisava dele para verdadeiramente chegar por completo.


Essa sensação de chegar por partes, de sentir falta de algumas coisas, de estar aqui, mas estar um pouco lá, de medo do novo, de saudade do conhecido provoca uma mistura de sentimentos.


Tempo bom, tempo sábio!

Feliz por estar aqui e cheia de energia para novos caminhos.

Ufa, cheguei! - Khanimambo.

2 comentários:

DriCarvalho disse...

LU!!

Que bom receber notícias fresquinhas da Africa. Feliz por te "ler" aqui e muito mais ainda por te achar no MSN e poder te tranquilizar de que por aqui tá tudo bem...
Vou sentir muitas saudades, mas estou adorando a idéia de compartilhar essa tua experiência tão rica e diferente!
Amo muito vc! Fica em paz e te cuida!
Beijos,
DRI

... disse...

Driiii,

Saudades tb!

Eu tambem estou gostando dessa idéia de manter a conversa, ainda que on line!
Fica bem por ai.... se cuida e logico um beijo enorme nos dois loiros da minha vida! Saudades dos meninos!

Bjs

sua irma, Lu