sexta-feira, agosto 24

"Vou historiar a minha vida..."


Khanimambo - Já era cedo e tínhamos que correr para alcançar o dia que a tempo já tinha começado.

Percorremos a estrada nacional até a comunidade de Chimondzo. Lá, o Sr. Salomão Nuvunga nos esperava.

Algumas de suas mulheres cuidavam das crianças, outras terminavam de regar a recente plantação de alface.

Cadeiras no lugar certo, filmadora ligada, o sol como luz natural refletia a mistura de emoção e nervosismo do Sr. Salomão.

Depois de falar seu nome, idade e local de nascimento, historiou sua própria narrativa.

Contou pouco de sua infância. Fazia um esforço para percorrer nas lembranças aquela época. Falou da guerra e de como fugiu para o mato. Com um sorriso, se lembrou do primeiro dia em sua própria machamba.

O Sr. Engenheiro de Chivalene, não esqueceu nenhum detalhe de quando esteve nas minas da África do Sul. Já o Sr.Massukos, depois de 16 anos servindo o exército nacional, terminou por acabar, em Macia, em meio a enxadas e hortícolas.

A Maria, mesmo em Changana, falou na língua universal quando descreveu em detalhes o trabalho da moegeira de milho, que hoje, cuida todas as tardes.

O Domingos, pulverisador da região de Rigoanne, carregou a voz de orgulho para dizer tudo o que já aprendeu com as atividades da associação:

- A vida melhorou. O que aprendemos isolados não vale, tem que aprender junto.


Uma pausa para o almoço e um primeiro olhar para as histórias.

- Eles têm muito para falar. São trajetórias de muita vida.
Custódio, técnico rural.

Custódio, jovem de 24 anos, disse que foi por causa do seu tio, pequeno agricultor, que ingressou na escola técnica agrícola:

- Eu via ele colocar as sementes na terra e depois de dois meses chegava com tomates vermelhos e bonitos. Queria entender essa mágica. Era bonito de ver.


Seu sonho é aprender inglês e as poucas palavras que já aprendeu, ensina a grupos de crianças por onde passa:

- Ensinar é a melhor forma de aprender.


Isso também foi o que disse o Sr. Mupice, presidente da Associação de Magul, que espera ensinar tudo o que sabe aos seus filhos e que assim eles possam saber ainda mais.

Foram dois dias de muita vida, contadas através de histórias.

Casos engraçados, rupturas, caminhos, dores, alegrias de encontros, perdas, surpresas, família, amor ...

Algumas histórias sem começo claro, sem data de nascimento.

Outros sentimentos sem fim definido, como emoções que sumiram no tempo.

Histórias que começam pelo meio e se misturam e dão sentido a dita história do próprio país.

Cada uma, única pela experiência de seu narrador, mas todas juntas, um mosaíco em sintonia com o retrato de um povo.

Coube a mim a escuta.

Abri espaço, tempo e presença na minha própria história, para que a partir de agora, misturada a tantas outras, eu siga ... diferente e sempre em frente.

Khanimambo

Um comentário:

Unknown disse...

Luciana, seu blog é lindo. estou com muita saudade de ti.Adorando ver essas experiências com cheiro de mar!

karen metade